sábado, 26 de fevereiro de 2011

O conquistador


  Ele passa pela rua e todas as garotas olham suspirando. Seu sorriso derrete os corações de adolescentes (muitas vezes fúteis). Ele escolhe uma presa, uma vítima. Anda na direção dela, num jeito de garoto tímido e fofo. Lança seu olhar de apaixonado e aquele sorriso meio torto. Ela cai em sua armadilha. Ele a faz rir com pequenas coisas, e ela continua se fazendo de difícil. Ele não desiste até consegui-la. Pelo menos, não se ela vale o esforço e acaba sendo mais uma pena pra enfeitar essa galinha.
 Para ele, o que importa é a quantidade (grande na lista dele, pequena nas virtudes da garota). Nada mais. Quando ele consegue o que quer, logo larga uma coitada apaixonada por aí e procura um novo alguém. Bem dizendo, ele é um nômade.
 Não gaste suas lágrimas na frente dele pois ele não tem coração. No mínimo rirá de você.
 Ele ri da palavra amor e de qualquer demonstração de sentimentos.
 Ele chora, sim, quando o gel barato que ele usa saiu de linha. Se decepciona se o carro não ultrapassou os 220km/hr que ele tanto esperava alcançar. Se sente prejudicado se não pega mais de 25 garotas na balada ou qualquer outro tipo de festinha.
 Ele não irá trocar a cerveja enquanto assiste uma partida de futebol com os amigos só pra ir à casa de uma menina pra assistir filmes água com açúcar.
 Ele não pertence à ninguém, ninguém pertence à ele. Sempre tem um estepe para quando se cansar de procurar, e, diga-se de passagem, a garota é uma idiota apaixonada. Apaixonada, idiota, retardada, sem noção... Qual é a diferença nessa situação? Mas não adianta negar: pelo menos uma vez na vida você se apaixonou por um cara assim. Todas nós já. É quase uma lei da vida feminina.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Meu mundo das maravilhas


  - Por que você escreve?
  - Porque eu quero. - respondi ríspida.
  - Mas por que querer? Digo, é tão chato...
  - Eu gosto. - senti uma uma ponta de ácido quando respondi isso, meio tímida, meio normal.
  - Como pode gostar?
  - Olha, quando você está triste, ou feliz, ou qualquer outra coisa, o que você faz?
  - Ah, conto pros meus amigos.
  - Então.
  - Não é a mesma coisa.
  - Aí é que você se engana.
  - Como assim?
  - Quando as pessoas estão tristes, elas tendem a desabafar, certo? Eu não sei desabafar. Digo, não sei desabafar olhando pra alguém. As palavras simplismente não saem. Quando escrevo, é diferente.
  - Diferente como, minha filha?
  - Eu me sinto livre. Como se todo o peso que está dentro do meu peito saísse e todos pudessem me entender. Posso inventar algo sem me prender àquilo. Se estou indignada com algo, escrevo. Se estou feliz, escrevo. Se estou com saudades, escrevo. As palavras são minhas amigas, podem me fazer viajar para um outro mundo, ou simplesmente me abraçar quando estou sozinha, no meio de um profundo vazio.
  - Então quer dizer que escrever é importante pra você?
  - Sim.
  - Ahm... Por acaso você vai ser escritora?
  - Não.
  - Mas por que se você gosta de escrever?
  - Você acabou de responder.
  - Sério? Ah. ... Não entendi.
  - É simples: escrevo porque eu amo escrever, porque me sinto feliz, porque estou com vontade. Se eu fizer isso por obrigação, perderei o encanto, a magia, a felicidade da escrita. Eu não me vejo como uma escritora que recebe para isso, mas não me imagino sem as palavras em minha vida. É meu refúgio, não minha obrigação.

* foto da chuchuzinha Melinda

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

O mágico e sua cartola


 Encontrei com ele num circo (bem, havia muitos palhaços em volta, então acredito que era um circo). Ele não estava no centro de todas as atenções, mas eu prestava atenção em cada traço seu. Bem, ele era o tipo de sonho adolescente que eu queria que se tornasse realidade. E começou a se tornar.
 O mágico sempre me encantava com seus truques que, mesmo conhecendo, fingia que ficava surpresa e sorria. No começo, ele fazia surgir pombas de um pacote preto e vazio, fazia com que sua varinha virasse um lindo buquê de flores. Depois ele ganhou a cartola pra completar seu estilo. Ele tirava tudo o que eu pedisse ou quisesse lá de dentro: um par de sapato caríssimo, uma bolsa que apareceu na vitrine da loja mais popular da cidade na semana passada, um colar que vi numa loja de antiguidades... E assim foi indo. Até ele tirar daquela cartola meus sentimentos.
 "Mas eles estavam aqui, dentro de mim! Como isso é possível?"
 Era possível, foi possível, ainda é possível. Ele roubou todos os que eu guardava, até os que nunca usei, sabe-se lá por qual motivo. Não restou mais nada. Nada mais. O mágico sumiu daquele palco em uma de suas apresentações junto com sua cartola que não servia pra nada. Me tornei fria. Disse coisas que nunca passariam pela minha mente. Seu mágico de merda que só usa truques baratos, tá na hora de arrumar uma assistente de palco, dessas gostosas que não servem pra nada a não ser ficar com um sorriso mais falso que a cor do próprio cabelo. Pra mim, já chega. Jurei que não me apaixonaria por mais nenhum cara bonito com baralhos de baixo da manga. E não irei. Até o próximo.